Menu | Portal Alvorada, Portal de Noticias da BR-429 |
|
6 |
�Previsão do tempo
segunda-feira, 17 de junho de 2013 Antônio Ferreira Filho; Fátima Barbosa; Judite Queiroz; Melina Tonini; Omiglei Silva
Na última quinta-feira nós grevistas da educação de Alvorada do Oeste nos reunimos com os profissionais de educação de Ji-Paraná, Ouro Preto do Oeste, Presidente Médici, Cacoal e de outros municípios e protestamos contra o governo do Estado que vem se recusando a apresentar uma nova proposta de atendimento das reivindicações.
Aos pais quereremos dizer que nossas reivindicações não são apenas salariais. Lutamos também por melhores condições de trabalho; por uma educação de qualidade; um salário digno de família para nossos colegas que prestam trabalhos administrativos; a não privatização de nosso espaço escolar, gerando futuros empregos a seus filhos por meio de concursos públicos para que eles não sejam humilhados na hora de conseguir seu trabalho pelas empresas privadas e nem perseguidos politicamente; pela possibilidade de a “educação transformar algo de decisivo em relação à barbárie, o preconceito delirante, a opressão, o genocídio e a tortura”; contra o desrespeito aos nossos colegas e alunos que não são bandidos para ter que olhar para guardas com cassetetes nas mãos.
Escrevemos também aos professores que ainda não aderiram à greve que lutamos contra as muitas aulas, salas lotadas, e controle administrativo intenso. Também, contra um sistema escolar que foi criado por forças políticas cujo centro de poder está distante da sala de aula e de nossa realidade. Pelos professores que precisam conquistar o direito de prosseguir sua formação, “cujo sonho é a transformação da sociedade e têm de ter nas mãos um processo permanente de formação, e conquistar dentro do sistema a formação profissional”. Lutamos por vocês professores que “viram as costas porque compreendem os riscos da política de oposição e temem ser apontados como radicais ou como pessoas que causam confusões. Quem protesta torna-se individualmente mais visível, e, portanto, mais vulnerável. Se se está na oposição, em vez de estar seguro dentro do consenso do currículo oficial, arrisca-se a ser despedido,
ou a não conseguir a disciplina que se quer ministrar, ou para o horário que se quer, ou a licença que se pediu, ou até mesmo, em alguns casos, fica-se na mira dos grupos ultraconservadores”. Manifestamos aqui também a nossa indignação aos colegas professores que não querem aderir à greve e dizer que o medo pode ser paralisante. Enfim professores, no momento em que vocês “começam a racionalizar seus medos, vocês começam a negar seus sonhos”.
A vocês caros alunos, queremos dizer que lutamos por uma educação que perceba que um “aluno não é apenas um cérebro e uma média trimestral. É uma roupa e acessórios, é pitoresco e intrigante, é carne e osso, é mentira e solidão, é ausência, preguiça, vida e, às vezes, morte”. Por uma escola que não é só o lugar da transmissão do saber: “é um lugar onde se experimenta a vida social, onde indivíduos comem, brincam, existem; é um lugar onde a “participação”, o incentivo à expressão geram conflitos e justificam, portanto, arbitragens”. E não estamos nas ruas para que vocês se sintam prejudicados e sem aulas, pelo contrário, estamos nas ruas para dar-lhes aquela velha e bacana aula de cidadania pacífica na prática, que tanto ensinamos a vocês teoricamente. Para que vocês entendam que se existem leis que visam reparar injustiças, existe também uma longa história de lutas cotidianas para conquistar estes direitos: o direito à liberdade de expressão, o direito de organizar e participar de associações comunitárias, sindicatos trabalhistas e partidos políticos, o direito a um salário justo, a uma renda mínima e a condições para sobreviver, o direito a um pedaço de terra para plantar e colher. Queremos que percebam quando nós grevistas retornarmos as salas de aula que a luta cotidiana por direitos elementares que define a cidadania brasileira é conquistada, de forma dramática a custa de esgotamentos e longas negociações políticas.
Deixamos também aqui registrada a nossa indignação e revolta pelo fato de o governo esbanjar dinheiro público em vários setores, mas quando é para valorizar a educação com seu próprio recurso, alega a existência de crise financeira.
Queremos também pedir desculpas a nossa sociedade e aos nossos concidadãos que tem seus direitos de ir e vir prejudicados por causa das manifestações. Mas a cidadania é tarefa que não termina. No Brasil ainda há muito que fazer em relação à questão da cidadania, apesar das extraordinárias conquistas dos direitos após o fim do regime militar (1964-1985). Mesmo assim, a cidadania está muito distante de muitos brasileiros, pois a conquista dos direitos políticos, sociais e civis não consegue ocultar o drama de milhões de pessoas em situação de miséria, altos índices de desemprego, da
taxa significativa de analfabetos e semi-analfabetos, sem falar do drama nacional das vítimas da violência particular e oficial.
Em fim, “Mas se ergues da justiça a clava forte Verás que o filho teu não foge à luta, nem teme quem te adora a própria morte” e registramos aqui o nosso apoio a todas as manifestações pacíficas pelo Brasil.
fonte: Melina Tonini Visualizar Impressão