Um dia após os atos pelo impeachment de Dilma Rousseff que reuniram mais de 600 mil pessoas em todo o Brasil, segundo dados da Polícia Militar, os movimentos sociais reforçaram os objetivos da manifestação contra o avanço da direita no País agendada para a próxima quinta-feira (20), em coletiva de imprensa realizada nesta segunda (17), no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.
Apesar de a pauta do ato focar outros pontos, como a luta contra o ajuste fiscal, a reforma política e a criação de impostos para taxar grandes fortunas, o protesto da esquerda tem o claro objetivo de se contrapor ao discurso dos grupos que pedem o impeachment da presidente, protagonizado pelo Vem Pra Rua, Movimento Brasil Livre e Revoltados Online.
"A mobilização vai para às ruas para o enfrentamento contra a direita conservadora, que semeia a intolerância e o preconceito, representada pela figura do deputado Eduardo Cunha, que impõe de forma ditatorial a votação de seus interesses na Câmara dos Deputados", disse Guilherme Boulos, coordenador nacional do MTST, principal movimento organizador do ato desta quinta-feira ao lado da Central Única dos Trabalhadores (CUT). "Cobramos uma saída à esquerda para a crise, uma saída popular [...] Derrubar o governo não é o caminho para o povo brasileiro, implica retrocesso."
Com atos simultâneos marcados para 11 capitais – São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Recife, Salvador, Goiânia, Fortaleza, Belém, Belo Horizonte, Porto Alegre e Florianópolis –, além do Distrito Federal, os protestos também contam com o apoio de outros 26 grupos, entre movimentos sociais, estudantis e sindicais.
"A manifestação não é um contraponto em relação ao pedido de impeachment, mas para todas as ideias conservadoras que vimos espalhadas pelo Brasil no domingo, de exaltar Eduardo Cunha, [o juiz federal da Lava Jato] Sérgio Moro. Queremos sair da crise de uma forma diferente", prosseguiu a presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral. "A UNE já derrubou presidente no passado [campanha contra Fernando Collor de Melo, em 1992]. Mas, desta vez, não existem indícios para fazermos o mesmo contra a Dilma."
O principal dos protestos, na capital paulista, terá concentração no Largo da Batata, zona oeste da cidade, a partir das 17h. Por volta das 19h o ato segue pelas avenidas Brigadeiro Faria Lima, Rebouças e Paulista, com encerramento no Museu de Arte de Sao Paulo (MASP).
Com o apoio de partidos políticos como PT, PCO, PCdoB e PSOL, a expectativa dos grupos é reunir cerca de 50 mil manifestantes somente na capital paulista.
Repúdio ao impeachment, divergências sobre o governo
Apesar do apoio do partido da própria presidente Dilma ao ato, os grupos organizadores garantem que o protesto não tem o intuito de defender cegamente o governo federal – e, sim, de repudiar o que chamam de golpismo caso o impeachment realmente vá em frente.
Assim, se Eduardo Cunha volta a ser foco da ira dos manifestantes – que atearam fogo em um boneco do parlamentar no ato de 18 de março –, com a luta contra a redução da maioridade penal e pela reforma política, a própria presidente será alvo de críticas devido a, por exemplo, seu ajuste fiscal e ao aumento das tarifas de energia.
Contudo, se as pautas do ato são as mesmas, já que estão claramente redigidas no manifesto assinado por todos os grupos envolvidos, as opiniões acerca da presidente encontram certas divergências entre seus representantes. "Existe um clima sendo criado de não se respeitar as últimas eleições, vindo daqueles que ficaram insatisfeitos com a derrota. Então, vamos defender o governo custe o que custar", afirmou Adi dos Santos Lima.
"Ontem [domingo] ficou realmente clara a tentativa de golpe que existe atualmente. A disputa para a presidência foi, sim, apertada, por três milhões de votos. Mas esta é a população inteira do Uruguai. Por isso, quem pede impeachment é golpista e a Dilma fica", fez coro Renan Alencar, presidente União da Juventude Socialista. "Quinta-feira é o dia de pautar o outro lado da moeda, para que venham conosco lutar por um outro tipo de saída para a delicada situação que vivemos no Brasil."
Figura mais conhecida entre os presentes – também esteve na coletiva o Índio, secretário-geral da Intersindical –, Boulos, foi, no entanto, mais contido em seu discurso. Para o coordenador, independente ele de ser contra o impeachment, a presidente também será um dos grandes focos dos gritos de seus companheiros de MTST.
"Dia 20 não é um ato em defesa do governo, é de saída à esquerda da crise, contra pautas conservadoras, contra a ofensiva da direita, contra o ajuste fiscal", enfatizou ele. "Mas é, acima de tudo, um ato de cobrança. E Dilma será, sim, cobrada."