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Casal gay ignora preconceito
Casal gay ignora preconceito

11/05/2013 18h32 - Atualizado em 11/05/2013 18h53

Casal gay ignora preconceito e educa a filha de 3 anos em São Carlos, SP

Ana Guerra esteve ao lado de Carolina durante toda a gestação e no parto.
Elas oficializaram a união no dia 27 de março; Nina comemorou junto.

 

Suzana Amyuni Do G1 São Carlos e Araraquara

 
Ana e Carolina oficializaram união em São Carlos no dia 27 de março deste ano (Foto: Carolina Laureto Hora/arquivo pessoal)
Ana e Carolina se casaram no dia 27 de março
(Foto: Carolina Laureto Hora/arquivo pessoal)

Ela foi assistida durante toda a gestação por uma doula (profissional que prepara a mãe para o parto natural), levou um plano de parto ao Sistema Único de Saúde (SUS) e sua acompanhante era uma mulher. A história da educadora Carolina Laureto Hora, mãe de Nina, de 3 anos, e da engenheira de materiais Ana Guerra é diferente dos padrões impostos pela sociedade, mas elas ignoram o preconceito e educam a filha, em São Carlos (SP), com muito amor. Hoje já bastante 'tagarela’, Nina é feliz ao lado das duas mães.

“Quando as enfermeiras me viram chegando com a Ana e com o plano de parto, elas já bloquearam o plantonista e só chamaram o pediatra porque geralmente, os ginecologistas não aceitam o que as doulas propõem. Então, meu parto foi feito pelas enfermeiras. Elas disseram que nunca tinham visto um plano como aquele em que constava, por exemplo, as injeções e procedimentos a que eu não queria ser submetida. E elas gostaram muito”, conta Carolina, de 28 anos.

Ana Guerra, de 26 anos, esteve ao lado da companheira o tempo todo. “A Ana entrou comigo para colocar em prática tudo que a doula ensinou. Ela fez massagem, cortou o cordão umbilical, levou a Nina para limpar, aspirar. A confiança nela era total, eu sabia que minha filha estava em boas mãos e que ela ia me passar segurança. Em nenhuma outra pessoa eu confiaria desta forma para esta missão”, afirma Carolina.

O desafio de ser mãe é dividido diariamente com a companheira. “Ela vendeu a moto e comprou um carro porque a Nina ia nascer, lavou todas as roupas da nossa filha antes do nascimento, tudo foi pensado em função da Nina. E até hoje é assim. Eu estudo à noite, então é a Ana quem fica com ela”, relata Carolina. A criança também fica com o pai duas vezes por semana.

Ana esteve ao lado de Carolina durante toda gestação e no parto, em São Carlos (Foto: Carolina Laureto Hora/arquivo pessoal)Ana esteve ao lado de Carolina durante a gestação
(Foto: Carolina Laureto Hora/arquivo pessoal)

Para a ‘mamãe Nana’, como é chamada pela pequena Nina, o processo é todo cheio de surpresas e conhecimento. “O nascimento da Nina foi emocionante. Nunca tinha pensado em viver uma experiência assim e é maravilhoso ser a mãe da Nina, ela me ensina muito. A ter mais paciência, mais amor. Sem contar que ela é parecida comigo, bem teimosa”, brinca a engenheira.

Romance
A história de Ana e Carolina começou ainda na faculdade, há três anos. Elas dividiam o quarto na moradia estudantil quando o interesse começou a surgir. Carolina tinha saído com o pai de Nina pouco tempo antes e, quando soube que estava grávida, foi para a cidade de seus pais, Santa Fé do Sul. “De lá eu entrei no Facebook e contei para a Ana que eu estava grávida. Eu estava ainda bem assustada porque foi uma gravidez inesperada”, relata Carolina.

Ana não teve dúvidas. Pegou a moto e encarou quase 500 quilômetros de moto para apoiar a amiga. “Deu vontade de ir e eu saí correndo. Não sei te explicar o porquê, eu queria estar do lado dela apenas”, lembra timidamente a engenheira.  Em Santa Fé, Ana se declarou para Carolina e as duas decidiram ficar juntas.

Tanto a notícia da gravidez, quanto a da homossexualidade, entretanto, causou muita polêmica nas famílias. “Foi muito difícil, nós enfrentamos uma barra porque minha mãe e o pai da Nina não aceitavam a situação. Foi uma gestação bem conturbada, mas agora já está tudo bem. Minha mãe aceita a Ana e adora a Nina”, relata. As duas oficializaram a união em São Carlos no dia 27 de março de 2013.

Desafio
Ana e Carolina estão seguras da decisão que tomaram e renovadas para enfrentar os desafios que a vida apresenta. As diferenças entre o casal, comum a qualquer relação, são resolvidas com uma boa conversa. E a educação de Nina também.

“A gente foi aprendendo muito com todas as situações e discute muito, por exemplo, como os pais devem se comportar em relação às birras, à alimentação. A Ana me ajuda muito, não só nas orientações da Nina, mas ela troca fralda, dá janta, dá banho, coloca a Nina para dormir, é uma mãezona”, conta Carolina.

Para ambas, o desafio mais sério é a educação da criança. “A gente se preocupa em ensiná-la a respeitar os limites dela e dos outros, em desconstruir discursos de dicotomia, como ‘o rosa é para menina e o azul é para menino’. A ideia é tentar neutralizar os conceitos no ambiente familiar para que ela possa lidar com as diferenças com naturalidade”, diz a educadora.

Preconceito
Carolina e Ana ainda sentem o preconceito nas ruas, mas sempre procuram agir com naturalidade, especialmente para não constranger a filha. “Há aquelas pessoas que olham com curiosidade porque é diferente, e há quem olhe com preconceito, cochiche e até aponte. A gente percebe os olhares, mas disfarça, até porque a Nina não percebe essas nuances, então a gente nem comenta para que ela não se sinta alvo do preconceito. Ela vai ter que lidar com isso, mas o preconceito, na verdade, é um problema mais de quem tem”, ressalta.

As duas entendem que podem superar as manifestações contrárias que surgirem com segurança, e querem passar essa ideia para a filha. “A gente entende que a Nina não vai ter nenhum problema em conviver com duas mães. Ela vai enfrentar preconceito, mas tem que estar segura com a gente. E nós estamos vivendo nossa vida, porque o importante é ser feliz e viver o que temos para viver”, finaliza Carolina.